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PROBLEMAS ASSOCIADOS À PELAGEM MERLE

           A pelagem com coloração “merle” tem ocorrência aceita para registro em diversas raças, como por exemplo o Pastor de Shetland, Border Collie e o Dachshund. Além disto, diversas outras raças possuem também esta pelagem, apesar de órgãos de registro de alguns países não reconhecerem como padrão, e as vezes até não emitirem pedigrees para animais cuja coloração informada for merle. Exemplos são o American Staffordshire Terrier e o Spitz Alemão, que não possuem o merle como coloração aceita pela CBKC.

            O merle é uma coloração bastante procurada pelo público em geral, pois o animal possui uma pelagem bastante característica, com três áreas de colorações distintas: áreas totalmente brancas, áreas totalmente coloridas de maneira sólida ou lisa (pretas, marrom ou cinza dependendo do cão) além de áreas com uma coloração diluída e misturada, similar a um mármore. Devido à grande procura, alguns criadores têm feito uma tentativa de inserir a pelagem merle em suas criações, ou de reproduzir preferencialmente cães com esta pelagem, mesmo que a mesma não seja aceita oficialmente como uma coloração aceita para a raça. Estes criadores denominam, assim, o merle como “pelagem exótica” o que possui um grande apelo de marketing para um público que não tem conhecimento sobre o que isto significa.

            A cor merle é uma característica dominante, com cães que possuem uma cópia do “gene merle” (Mm) apresentando este padrão, enquanto cães com duas cópias do “gene normal” (mm) teriam a pelagem com qualquer outro padrão de coloração. É muito comum que cães merle apresentem heterocromia (um olho de cada cor, ou mais de uma cor no mesmo olho) ou ambos os olhos azuis. Por muito tempo se acreditou que cães merle não teriam mais problemas de saúde que cães com outras pelagens. No entanto, estudos recentes têm demonstrado que, de fato, alguns problemas são mais comuns em cães com esta coloração. O pequeno número de trabalhos publicados tem demonstrado que esta relação com questões de saúde parece variar de uma raça para outra. Infelizmente, um número muito pequeno de raças ainda é estudado, e a ausência de estudos é ainda maior em raças nas quais o merle não é aceito oficialmente.

            Justamente por não possuir controle através de registro em órgãos oficiais, não é possível nenhum tipo de cuidado para impedir o cruzamento de dois animais merle. Além disto, a alguns criadores desconhece ou negligencia esse tipo de cruzamento, cruzando muitas vezes dois cães com o padrão merle, o que pode gerar cães que terão uma qualidade de vida diminuída, pelos problemas de saúde ligados a esse tipo de cruzamento, conforme tratado abaixo. O fato de o animal merle não poder ser registrado não impede que criadores consigam a emissão de pedigrees, pois os mesmos registram com outras nomenclaturas de colorações, como por exemplo partcolor, o que faz com que absolutamente nenhum controle genealógico seja possível.

            Desordens auditivas e oftálmicas podem ocorrer com maior prevalência em animais merle, como já foi demonstrado para algumas raças: nas raças Border Collie, Collie, Pastor Australiano, Pastor de Shetland e Dogue Alemão a prevalência de surdez em cães merle foi detectada como sendo maior do que em cães com outros tipos de pelagem, especialmente na raça Dogue Alemão. Em geral, em animais merle que possuem este problema, a surdez é unilateral. Por outro lado, cães merle das raças Welsh Corgi Cardigan, Chihuahua, Dachshund e  Cocker Spaniel, não tiveram maiores números de cães com surdez, quando comparados a cães com outras pelagens. Porém, um número bastante reduzido de animais foi investigado, e em poucas raças até momento. Assim, permanece em aberto a questão sobre a prevalência de problemas auditivos em cães merle de outras raças onde esse fenótipo é visto com frequência, seja em raças onde a cor é aceita por órgãos de registro, ou naquelas em que não é um padrão oficial.

            Além de problemas auditivos, alguns pesquisadores indicam que o cão merle possui uma chance aumentada de ter problemas de malformação do olho, denominada de disgenesia ocular. Neste problema, o cão pode ter graus variáveis de um ou vários dos seguintes sinais: microftalmia (olho menor do que o normal), microcórnea (córnea menor do que o normal), anormalidades de íris, pupila assimétrica, membranas pupilares persistentes, anomalias da lente, defeitos de esclera e defeitos da retina. Embora seja raro a ocorrência destes problemas em cães merle, eles possuem mais chance de apresenta-los, quando comparados à cães com outras pelagens.

            Aparentemente, um dos motivos que leva um cão merle a ter problemas auditivos e/ou oculares é a quantidade de pigmento em tecidos próximos ao olho (e também no olho) e ao ouvido: quanto menor a pigmentação, maior a chance de problemas oculares. Animais merle que, por acaso, possuem estas regiões com pigmentação, dificilmente terão estes problemas associados. Como a deposição de pigmento é uma questão completamente aleatória, dentro de uma mesma raça, acaba por ser uma questão de sorte ou azar o cão apresentar ou não problemas. É interessante notar que uma das raças que não foi encontrada nenhuma associação com problemas auditivos ou oculares e a pelagem merle, é uma raça na qual o padrão merle é bem mais pigmentado em muitos cães. O Cão Leopardo Catahoula (ou Catahoula Cur), é uma raça rara, norte americana, sem reconhecimento internacional até o momento, e que foi investigado (apesar de sua raridade), justamente por ser do mesmo país no qual as pesquisas descritas acima ocorreram. 

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