GENÉTICA CANINA: A ESCOLHA DE UM CÃO
A IMPORTÂNCIA DE UM REGISTRO GENEALÓGICO FIDEDIGNO PARA A CINOFILIA
Fabiana Michelsen de Andrade, Biol, MSc, PhD
Clarice Oliveira, presidente da FECIRS
O registro genealógico fidedigno é a base para uma série de ações de qualidade na cinofilia. Dados do pedigree são importantes por diversos motivos, e dentre estes, o primeiro dado que chama a atenção é a presença de premiações nos ancestrais listados. Quanto maiores os títulos dos ancestrais de um animal, existe a tendência de acreditar que o portador do registro tem uma ótima chance de ser um cão perfeitamente dentro do padrão da raça em questão. No momento da venda deste exemplar, é inclusive muito comum existir uma maior valorização de um cão com este tipo de genealogia. Sua utilização na reprodução tende a produzir filhotes com boas conformações físicas, e contribui muito para a preservação e melhoria do padrão racial. No entanto, se no momento do registro de qualquer um dos ancestrais tiver ocorrido algum erro (intencional ou não) por parte de seu criador, o pedigree, como ferramenta poderosa de informação sobre o seu portador, perde completamente sua validade. Nestes casos, o criador desavisado acaba tendo ‘surpresas’ em suas ninhadas, pois acabou utilizando de maneira inadvertida material genético desconhecido e de origem diferente daquela atestada pelo documento.
Em diversas raças onde vários padrões de coloração são aceitos, os dados sobre pelagens presentes no pedigree podem auxiliar na escolha de cruzamentos, sendo uma ferramenta útil para a previsão de colorações nas ninhadas. No entanto, novamente quando algum ancestral está registrado de maneira errônea no pedigree, a capacidade de previsão do criador é totalmente perdida.
Outro dado importante que um pedigree fiel auxilia a obter é relacionado com a saúde. Uma vez que atualmente a cinofilia de qualidade está se voltando cada vez mais para a preocupação com a saúde da futura ninhada, ter em mãos laudos de saúde dos pais e avós é extremamente importante. Somente assim é possível para o criador balancear uma linhagem com chances medianas de doenças de origem genética (por exemplo, a displasia coxo femoral), com uma linhagem que diminua a chance de nascimento de filhotes com este tipo de doença. É possível utilizar este tipo de raciocínio quando o criador tem em mãos laudos de pais e avós da futura ninhada. No entanto, novamente quando algum destes animais não um ancestral verdadeiro da ninhada, todo o trabalho de coleta de dados de saúde e escolha de linhagens vai por água abaixo.
Uma última vantagem a se considerar com o aumento do mercado pet é a enorme necessidade de diferenciar, para o comprador de um filhote, o cão produzido pelo criador de maneira profissional, do cão produzido pelo proprietário sem nenhuma experiência em cinofilia. Neste sentido, a comprovação da veracidade de um pedigree contribui para que o comprador consiga perceber a qualidade do trabalho do criador.
Assim, a única maneira de comprovar a veracidade da paternidade (e maternidade) de um filhote, é através do exame de DNA, também conhecido como teste de paternidade. Esta prática, já bastante difundida em alguns países, é obrigatória para muitas criações de grandes animais, sendo inclusive controlada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Este órgão cadastra laboratórios autorizados a realizar o teste de paternidade para algumas raças de equinos e bovinos, e só permite a emissão de registro após a comprovação feita com os dados do teste. No entanto, para a criação de pequenos animais ainda não existe nenhuma regulação sobre isto, devendo ficar a carga de cada associação ou de cada criador a escolha por investir nesta tecnologia. É importante que o teste de paternidade seja realizado em um laboratório cadastrado no MAPA (para grandes animais), pois isto atesta a qualidade do mesmo, e que este laboratório seja também membro da International Society for Animal Genetics (ISAG), que é um órgão internacional que determina como o teste de paternidade deve ser feito para várias espécies. Desta maneira, laudos emitidos por este tipo de laboratórios são aceitos em qualquer lugar do mundo.
A tecnologia dos exames de DNA se tornou acessível nos últimos anos: hoje em dia é possível gastar com um teste deste tipo menos de 30% do que se gasta fazendo um RX coxofemoral, por exemplo. Além disto, uma vez que o casal tenha sido testado, os resultados ficam registrados no banco de dados do laboratório, e na próxima ninhada é necessário testar somente os filhotes. Desta maneira, o investimento maior é o inicial, e o de produção de novas ninhadas diminui.
Com o intuito de estimular este tipo de prática voltada para a qualidade na cinofilia gaúcha, a Federação Cinológica do Rio Grande do Sul acaba de assinar um convênio com o laboratório LinkGen Biotecnologia Veterinária, de São Paulo. O criador associado em cada Kennel Club do Rio Grande do Sul, que quiser se beneficiar deste convênio, deverá entrar em contato com o laboratório e realizar a compra de kits de coleta de material, de acordo com o número de cães testados. Os kits de coleta são enviados pelo correio, e se tratam de um tipo especial de papel para ser passado na língua do animal. Além disto, através deste convênio é obrigatório que a coleta do material dos cães seja feita sob supervisão de médico veterinário, que deverá assinar a responsabilidade pela coleta. O documento com a assinatura deverá ser enviado para o laboratório juntamente com as amostras coletadas dos cães.
Ao vender seus filhotes, envie junto à documentação do filhote a cópia do laudo de exame de DNA. Além disto, é importante aos poucos começar a priorizar a compra de padreadores e matrizes que tenham este tipo de laudo também, atestando a veracidade ao menos de uma geração do pedigree.
Realizando os testes de DNA via convênio, criadores terão a vantagem de diminuição de custos:
De 01 a 09 cães*: R$ 96,00 por amostra
(valores já com desconto de 20%)
Acima de 09 cães*: R$ 90,00 por amostra
(valores já com desconto de 25%)
As solicitações deverão ser enviadas através do e-mail fecirs@fecirs.com.br com os seguintes dados do criador:
Nome completo, Canil, comprovante de condição de associado em dia com um Kennel Club filiado à FECIRS, e-mail e telefone de contato.
*todos do mesmo canil
Todas as informações como pagamento, envio de kit, prazo de liberação de resultados, serão fornecidas pelo laboratório LinGen. Os kits serão enviados diretamente para o endereço que o criador solicitar assim como a quantidade de kits.
A coleta do material biológico deverá ser realizada obrigatoriamente por um médico veterinário, que deverá assinar um termo de responsabilidade, com seu carimbo constando o CRMV (solicite modelo de documento à FECIRS) .
O resultado será liberado em até 30 dias a contar do recebimento das amostras pelo laboratório e o resultado será enviado diretamente ao criador.